A dislexia tem sido, muitas vezes, erradamente interpretada como um sinal de baixa capacidade. Pelo contrário, muitos disléxicos conseguem, em certas áreas, um desempenho superior à média. No nosso sistema de ensino, as competências de leitura e escrita são consideradas requisitos fundamentais para a obtenção de conhecimento, assim, uma criança que leia e escreva mal torna-se rapidamente deficitária em todas as restantes matérias e disciplinas.
1. Definição e Origem da Dislexia?
A dislexia é uma dificuldade de aprendizagem especifica, de origem multifatorial (e.g. genética, neurofuncional, neurocognitiva), caracterizada por dificuldades no reconhecimento preciso e/ou fluente de palavras e por uma reduzida competência ortográfica e habilidades de descodificação, em indivíduos com uma adequada instrução, inteligência e habilidades sensoriais. Estas dificuldades resultam de um défice na componente fonológica da linguagem, que é inesperada em relação às outras competências cognitivas as e às condições educativas proporcionadas. Consequências secundarias podem incluir problemas na compreensão da leitura e uma reduzida experiência leitora, que pode condicionar o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais (The International Dyslexia Association, 2002; National Institute of Child Health and Human Development, 2022; Peterson & Pennington, 2015; Lyon, Shaywitz, & Shaywitz, 2003).
2. Alguns Sinais de Alerta
A dislexia pode-se detetar antes do início da aprendizagem da leitura. Desta forma, existem alguns sinais que podem indicar dificuldades futuras, e se esses sinais forem observados e se persistirem ao longo de vários meses os pais devem procurar avaliação especializada (Torres e Fernandez, 2022; Teles e Machado, 2006; Shaywitz, 2008). Serão, em seguida, enunciados alguns sinais de alerta, consoante as idades:
No Jardim-de-infância e Pré-primária:
- Linguagem “bebé” persistente;
- Dificuldade em contruir frases logicas e com sentido;
- Dificuldade em memorizar os nomes das cores, das pessoas, dos objetos;
- Dificuldade em memorizar canções e lengalengas;
- Dificuldade na aquisição de conceitos temporais básicos (ontem/hoje/amanhã).
No 1º ano de escolaridade:
- Dificuldade em compreender que as palavras se podem segmentar em silabas e fonemas;
- Dificuldade em associar as letras com os seus sons, como por exemplo a letra “efe” com o som f;
- Recusa ou insistência em adiar as tarefas de leitura e escrita;
- História familiar de dificuldades de leitura e ortografia noutros membros da família.
No 2º ano de escolaridade:
- Progresso muito lento na aquisição da leitura e ortografia;
- Necessidade de recorrer à soletração, quando tem que ler palavras desconhecidas, irregulares e com fonemas e silabas semelhantes;
- Substituição de palavras de pronúncia difícil por outras com o mesmo significado: carro/automóvel;
- Tendência para adivinhar palavras, apoiando-se no desenho e no contexto, em vez de as descodificar;
- Falta de prazer na leitura, evitando ler livros ou sequer pequenas frases;
- Velocidade de leitura bastante lenta para a idade e para o nível escolar.
Jovens e Adultos:
- História pessoal de dificuldades na leitura e na escrita;
- Dificuldade em ler e pronunciar palavras pouco comuns, estranhas, ou únicas como nomes de pessoas, de ruas, de lugares;
- Não reconhecer palavras que leu ou obvio quando as lê ou ouve no dia seguinte;
- Longas horas na realização dos trabalhos escolares;
- A ortografia mantém-se desastrosa preferindo utilizar palavras menos complexas, mais fáceis de escrever.
3. Como Podem Os Pais Ajudar
É importante que a criança com dislexia receba um forte apoio parental. Não só para a satisfação das suas necessidades imediatas e físicas, mas também para os ajudar a criar mecanismos para ultrapassar as suas dificuldades.
Segue de seguida, algumas estratégias para os pais poderem proporcionar um ambiente afetivo, seguro e estimular que apoie a aprendizagem:
Motivar e Encorajar:
- Crie uma atmosfera positiva, com elogios e incentivos. Este processo facilitará o caminho do crescimento da criança;
- Evite ser superprotetor e deixe o seu filho assumir as suas responsabilidades. O facto da criança se sentir menos protegida, permite que se torne mais autoconfiante e mais segura de si mesma;
- Evite comparar o seu filho com as outras crianças da mesma idade, pois leva a criança a reforçar o seu conceito de incapacidade.
Ler com a Criança:
- Leia diariamente com o seu filho e faça deste momento uma ocasião especial. Uma das melhores estratégias é a leitura em voz alta. Quando os pais leem histórias em voz alta aos seus filhos, estão não só a transmitir uma experiência e leitura positiva, como também a modelar hábitos de leitura positivos;
- Peça ao seu filho que leia para si. Não se mostre ansioso ou impaciente com as competências de leitura do seu filho;
- É importante que os livros vão de encontro aos interesses da criança. Uma criança com dislexia consegue interessar-se mais facilmente por um livro se o respetivo tema for do seu interesse. Experimente, por exemplo, banda desenhada ou histórias de aventuras.
Trabalho Escolar:
- As crianças com dislexia podem levar o dobro do tempo a realizar uma atividade, portanto, em casa, não coloque demasiada pressão sobre o seu filho. A casa funciona como um refúgio para muitas crianças, por isso é importante que neste local não experiencie uma pressão adicional;
- Para a superação de algumas dificuldades, a definição de metas em qualquer tarefa é fundamental, por isso torna-se importante falar com a criança enquanto ela executa as tarefas com o intuito de se certificar que a criança entendeu o que lhe foi pedido;
- Mostre interesse por aquilo que se passou na escola permitindo-lhe, assim, fazer um pequeno apanhado do que aprendeu.
Faça Jogos:
- A maioria das crianças com dislexia não gosta de atividades mecânicas e repetitivas e demonstram alguma dificuldade em abraçar este tipo de atividades. Devido a isto, é essencial encontrar formas de levar a criança a manter o interesse, através de alguns jogos, como por exemplo: jogo da memória das palavras; acabar a palavra; encontrar palavras de diferentes sons no texto; jogo das rimas; recitar poemas; jogos de tabuleiro, entre outros.
4. Informação complementar